Que dessem pela minha falta.. depressa davam, acredito. Sou barulhenta. Estranham o silencio. Mas quem procuraria dentro de um armário?
Uma incoerencia minha. Tanto medo de espaços apertados, tanta falta de ar em multidões e desde menina que quando o mundo me parece tão vasto que é impossível segurar junto a mim o que amo me fecho num cubículo cheio de roupa, às escuras, com o único remorso de não conseguir fechar por completo a porta por onde entro para que nem uma réstia de realidade lá entre.
Não se fazem armários com maçanetas por dentro. Ninguém precisa de fechar a porta pelo lado inverso aos normais, pois não?
É estranho, no entanto. Nunca o "não-ser-normal" foi tão banal. Já nem é sintoma de originalidade nem de loucura criativa... é apenas um sintoma de moda.
Há provavelmente milhares de pessoas que se fecham em armários. Físicos, virtuais ou apenas na sua imaginação e outras tantas que fazem outras coisas ainda mais peculiares. Talvez se me fechasse num frigorífico me destacasse do rebanho.
Mesmo assim não acho que me procurassem aqui.
Quem me conhece assim?
Por vezes sinto que não me conhecem porque não mereço, outras porque não o merecem... outras porque pura e simplesmente não há nada em mim que cause interesse o suficiente para fomentar a curiosidade de escavar mais um pouquinho, outras que sou eu que não me dou a conhecer e ainda, em momentos de maior narcisismo, que sou tão intricada que nem eu me conheço tornando a tarefa impossível aos demais.
A verdade é que não quero que me procurem no armário.
Quero que já saibam mesmo sem espreitar que eu às vezes estou lá.