terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A culpa é sempre do mordomo

Excepto neste caso.
Neste caso é definitivamente dos meus avós.
A minha avó pegava em mim ainda em Janeiro e entravamos as duas por uma portinha fininha que dava para umas escadas de madeira tortas.
Subíamos, subíamos até mesmo ao topo e entravamos numa casa baixinha e que cheirava a uma mistura de madeira, tecidos e linhas que eu adorava.
Lá dentro uma senhora já velhinha levava-me até às máscaras e marcava com as mãos quais eram do meu tamanho. Eu ficava a olhar para as cores, para os brilhantes e a escolha caia sempre na máscara com mais ar de conto de fadas.
Vestiam-me e eu experimentava a roda da saia com dois ou três rodopios. Era o mais importante!
Depois da aprovação final tiravam-me as medidas para ajustar o fato ao meu tamanho e vínhamos embora.
Daí até ao Carnaval era um mês de espera ansiosa.
Claro que gostava do Natal... do ficar acordada até tarde, das prendas... E as férias de Verão também eram boas, com os gelados e a piscina. Sem dúvida que me sentia entusiasmada na altura do meu aniversário e da festa com os amigos. Mas nada se comparava ao Carnaval.
Não havia nenhuma outra altura em que eu atravessasse a rua com tanto cuidado (não fosse ser atropelada antes de usar a minha máscara), que me agasalhasse tão bem (nem pensar em estar doente na altura do entrudo), que me portasse tão bem (nunca se sabe se não lhes passava pela cabeça não me deixarem mascarar).
Na noite anterior mal dormia.
Na ultima sexta feira de aulas a minha mãe levantava-se às seis e meia da manhã para me pentear, pintar e vestir.
Com o cabelo cheio de laca, os olhos cheios de cor e o baton vermelho (sempre o mesmo baton vermelho que ainda tenho) nos lábios vestia-me com muito cuidado, primeiro o saiote, depois o vestido, o sapatinho e a capa.
Daí até à quarta feira seguinte eu era a garota mais feliz do mundo.
Por isso a culpa é sem dúvida dos meus avós. Fato feito à medida, passeio todos os dias, seis dias de um mundo de sonho... é óbvio que eu ia ficar viciada para o resto da vida.
Bom Carnaval, minha gente. Aproveitem que a próxima desculpa para serem crianças outra vez só chega com Novembro.

7 comentários:

Anónimo disse...

A publicidade (do post anterior) para além de descarada foi demorada!

eu sou crinça 365 dias por ano - 12 (dias de pagamento de contas :P

dá uma saltada no estaminé, temos lá uma lembrança!

beijinhas
***

Anónimo disse...

Há muito poucas coisas que sejam mais maravilhosas do que viver um sonho.
Naqueles 3 dias era o que te acontecia! Por três dias eras a princesa, a bruxa, a varina ou o 31 :) (principalmente a princesa)
E como é bom viver um sonho...
Fiquei com vontade de me ter mascarado!

Taralhoca disse...

Os avós são frequentemente os culpados. Geralmente por fazerem de nós pessoas mais felizes.

Maria Papoila disse...

Fantasias que perduram uma vida!

Espero que te continues a mascarar.

paula disse...

pois, pois, os avós. a minha avó poupou-me a isso: mascarava-me de criada. socorro! ela vestia-se de cigana, por ter o cabelo até abaixo da cintura, e cumpria as ordens da minha mãe e vestia-me o malfadado fato, e eu nem me queixava. até que uma qualquer conhecida me apanhou agachada atrás de uma árvore, prestes a aliviar uma necessidade muito fisiológica, e me diz «que vergonha! as criadas não fazem xixi!!». pois que, que na altura tinha muito pior feitio do que agora, ponderei no assunto e achei que ela tinha razão. conclusão: toca de vestir tudo sem fazer nada e aguentar duas horas até poder despir o fato e fazer o belo do xixi.

acho que nunca mais gostei do carnaval. lol. traumas de infancia precoce... :p

bailaroska disse...

Assustei-me. Podia ter sido eu a escrever este texto: palavra por palavra, memória por memória.

Anónimo disse...

A culpa afinal não é sempre do mordomo... ou se calhar é!
Como me explicas não haver aqui novidades há uma carrada de tempo Rita Maria?
Será que a culpa é do Mordomo?